Neste mesmo dia, em 1994, começava a circular no Brasil uma nova moeda, o Real. Mas o que mudava a partir desse lançamento? Se o Brasil já teve várias mudanças de moeda, por que essa seria mais importante?
No nosso texto “O que essa tal inflação pode fazer”, mostramos o que é inflação, o que podem ser as suas causas e suas consequências. Entre as décadas de 1980 e 1990, o Brasil viveu a hiperinflação, que é um cenário onde o dinheiro se desvaloriza rápido demais, e se perde o controle do poder de compra.
Nessa época, quando um trabalhador recebia seu salário, deveria correr para o mercado o mais rápido possível, pois até o fim do mês os preços poderiam subir demais e esse mesmo salário deixar de valer o suficiente para o seu sustento. Para o país como um todo, receber investimentos do exterior era algo inimaginável, e a indústria do país era extremamente atrasada em relação ao exterior.
No início da década de 90, a inflação anual acumulada ultrapassou os 1000% ao ano, marca atingida apenas por 4 países no mundo: Congo, Rússia, Ucrânia e Brasil. Congo vivia uma guerra civil, Rússia e Ucrânia sofriam com a crise que ocasionou o fim do regime soviético.
Mas, se o Brasil não havia passado por nada dessa magnitude, qual era o motivo de tanta instabilidade?
O governo Juscelino Kubitschek se tornou popular por seu Plano de Metas, que gastava em excesso com obras públicas e forte endividamento. O Regime Militar seguiu a mesma ideia com suas “obras faraônicas” para chamar a atenção da população, mas desta vez, sem qualquer tipo de controle, já que a gestão era autoritária e não permitia interferências do Banco Central e nem de auditores externos nos gastos públicos.
Assim, o governo gastava mais do que poderia, se endividava, fabricava dinheiro de maneira desproporcional ao aumento da demanda e, dessa forma, a própria moeda se desvalorizava, gerando a inflação.
Após a redemocratização, houveram vários outros planos frustrados de controlar a inflação, onde se conseguia uma redução temporária nos índices de inflação e logo em seguida eles voltavam a subir ainda mais. Isso porque, para não limitar os gastos públicos, buscavam formas de congelar os preços das mercadorias no varejo. Em um dos planos, no governo Collor, houve ainda o confisco das poupanças, numa tentativa desesperada de limitar o dinheiro que circulava no país.
Cada vez mais o caminho se tornava inevitável: ao invés de continuar sendo irresponsável e passar a conta para a população, o Governo deveria começar a usar a calculadora e controlar seus gastos. E foi aí que entrou em cena o Plano Real.
O Plano Real foi muito além de uma mudança de moeda. Isso foi apenas um reflexo de uma mudança maior. Era um novo modelo de política monetária onde o governo deveria passar a obedecer uma série de controles fiscais, reduzindo seus gastos, privatizando empresas públicas que não conseguia sustentar e dando autonomia ao Banco Central para fiscalizar e regulamentar a economia do país.
Somando isso com a adoção de uma nova moeda que teria sua fabricação controlada e regulamentada de acordo com a demanda. Assim, a equipe responsável acreditava que seria possível trazer estabilidade às pessoas, receber investimentos exteriores e começar a correr atrás de um atraso de décadas. E essa crença se mostrou certa.
A consolidação do Plano veio com a adoção da nova moeda, e esses foram seus efeitos imediatos:
Fonte: Wikipédia, com valores divulgados pelo Banco Central.
Depois do dia 1 de Julho de 1994, várias medidas foram adotadas para reforçar o controle das contas públicas, como o Tripé Macroeconômico, e aperfeiçoar a eficácia do Plano Real. Desde então, você não precisa mais se preocupar se com a mesma nota com que você pagava um carrinho cheio no mercado vai passar a valer um saco de arroz no final do mês.
Conforme os anos foram passando, controlar a inflação continuou sendo um desafio, porém, em escalas bem menores. A economia brasileira ainda tem muitos degraus a subir para se tornar competitiva entre as maiores do planeta, mas o início dessa caminhada não seria possível sem as reformas provocadas pelo Plano Real.
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